A obsolescência da Religião: um perigo oculto para as igrejas tradicionais 

Para melhor análise é bom usar um paralelo comparativo com o que aconteceu recentemente no Brasil com o sistema de telefonia fixa. Aparentemente não há sensatez nem correlação em se falar nisso dentro dessa temática, mas ao final você compreenderá.

A telefonia fixa surgiu como um milagre para a humanidade e se ampliou pelo mundo como a melhor solução para a comunicação entre os homens, independente da distância entre eles. Então, promover a comunicação entre pessoas e transmitir informações era a sua essência, a razão de existir, a sua missão.

Com o tempo, o que muitos acreditavam ser impossível acontecer, ocorreu: A comunicação se libertou do fio, primeiro dentro de casa e dos escritórios com os telefones sem fio e depois a telefonia celular chegou para libertação completa e acabar de vez com a relevância da telefonia fixa para a comunicação humana, encaminhando-a para a obsolescência e criando outro parâmetro para esse conceito.

O interessante, é que essas mudanças se deram nos métodos sem agredir os princípios e sempre fortaleceram a essência e potencializaram a missão da telefonia: A comunicação!

Aí a pergunta: o que isso tem a ver com a Religião? Sim, tem a ver como os formatos das coisas que mudam com o tempo, sem que se mudem a essência! O surgimento da telefonia celular mudou o método mas a dinâmica, a essência (missão) não mudaram, apenas se implantou um método mais eficaz,  sem a limitação de espaço e mobilidade imposta pelos fios e assim tornou a comunicação mais dinâmica e imprescindível que antes e ainda multiplicou as formas de uso e principalmente o numero de pessoas  que alcança e beneficia!

A religião em suas diversas correntes, sempre quiz se mostrar como um formato imutável e como a única detentora dos ritos corretos da prática e forma do homem se relacionar com Deus. Isso que sempre se pensava ser a sua essência, tem mostrado ser seu algoz na atualidade, tal qual o fio foi para a telefonia. O que é indispensável é a essência, não o método ou o meio!

Historicamente, de tempos em tempos a pureza da prática religiosa vai se contaminando e deteriorando por influência de conceitos, conflitos, e principalmente de pessoas, principalmente lideranças, que de pouco em pouco deixam contaminar a pureza da sua fé pelo encanto do poder e da posição que a religião confere aos homens e, para manter tudo favorável a suas intenções, perdem o foco na essência e forçam em manter a instituição retrógrada, agindo como se na telefonia fixa, o fio fosse a essência e não apenas um meio para a comunicação acontecer com eficiência.

O mundo testemunha na atualidade a fase pós-cristã da Europa, as “dead churches“(igrejas mortas) nos EUA e o surgimento vigoroso no Brasil de um neo pentecostalismo sem base, contaminando até as igrejas tradicionais e influenciando negativamente suas essências a ponto de muitas estarem perdendo suas raízes evangelizadoras e desviando-se do cumprimento de sua missão principal. Como outro ingrediente potencialmente perigoso sabiamente inserido pelo inimigo, iludem-se em estar vivendo em uma fase progressista na área financeira e estrutural, com construções, investimentos, carrões, conforto, etc., mas a essência do evangelho e relevância cristã da igreja na sua comunidade estão cada vez mais obscurecidos pelo materialismo, culto ao ego e cultivo do poder, potencializadas no vácuo da corrente neo pentecostal e da contagiante teologia da prosperidade, e cada dia perdendo sua essência e obsolescendo em seu real sentido de existir.

Então, mudar o método é diferente de se mudar a essência! A falta de cuidado e sabedoria na mudança ou a reticência em não mudar quando se é necessário e possível, acaba na falência de qualquer instituição instituição ao longo do tempo, nesta análise é bom deixar claro que falamos da igreja como organização, instituição, não como organismo.

Interessante que hoje parece que está mais fácil mudar para o lado das coisas erradas que enfrentar o sacrifício das renúncias que aprimoramento da espiritualidade exige e  assim, não cuidam da perda de foco na missão da igreja que é altamente danoso pois não se preocupam, perder a essência, a identidade mas insistem em manter tradições, métodos e conceitos não doutrinários que não funcionam mais na sociedade atual. Aí nasce o paralelo com a telefonia fixa: É  como insistir no uso do fio, quando as pessoas já conhecem o celular e não suportam mais viver escravizados pelo fio!

A telefonia fixa mantém sua essência, mas perde significado e relevância a cada dia.  Isso aconteceu porque as pessoas deixaram de se comunicar? Não, mas porque a sociedade progrediu e a mesma coisa hoje já pode se fazer de varias outras formas e se chega ao mesmo resultado de forma mais dinâmica, rápida e eficaz. Quem não atenta para mudanças nos métodos paga o preço da obsolescência!

Mas a Religião tem como se atualizar? Toda corrente religiosa tem métodos métodos e princípios. Princípios são eternos métodos precisam ser atualizados, e sim, a religião tem como se e precisa aperfeiçoar, mas esse é um tema controverso, extenso e que requer cuidado porque há muita confusão entre princípios e métodos, porque nesse ambiente, os métodos muitas vezes tornaram-se sagrados. Enfatizamos que o que nunca se pode alterar é a essência das doutrinária, a posição subordinada do homem a Deus, e a reverência necessária nessa relação.

Infelizmente são nesses quesitos imutáveis onde mais tem se visto tentativas de mudanças, não para melhorar o foco na missão ou fortalecer a essência da igreja, mas para tentar deixa-la mais “simpática” aos homens da atualidade, mas deles sonegam-se as verdades que precisam ser ditas, que emboras duras, fazem parte da essência do que é ser igreja. Nesse caminhar, acabam endeusando o homem e tentam dar características servis a Deus, e com essas características, moldam em um “ídolo” apenas parecido com ele, que que engana a muitos, porque é agradável ao querer das pessoas e praticamente subordinado aos homens para assim agradar as pessoas e resulta em uma religião sem evangelho e sem nenhuma posição de combate ao pecado. Isso sim é perder a essência, desvirtuar a missão, como se a telefonia sacrificasse a comunicação para manter o uso do fio.

Mudanças na essência simplesmente acabam com o significado da existência da religião e leva as instituições a estagnar, minguar e morrer lenta e gradativamente pelo envelhecimento das pessoas mais tradicionalistas, que a mantém a instituição “respirando por aparelhos” ao longo de gerações até morrer num tempo distante dos verdadeiros culpados desse acontecimento que hoje vivem e usufruem da religião e até exploram pessoas, mas são os culpados de sua morte no amanhã mas infelizmente não estarão lá para ver. Essa fatura tem prazo longo: Estes homens a pagarão diretamente ao  prestar contas ao todo poderoso na eternidade.

O comprativo com a telefonia fixa foi só um pretexto para nos levar à reflexão de que a obsolescência existe, e que os métodos mudam, mas que a essência sempre deve permanecer imutável, que as mudanças não podem sufocar a missão, nem gerar misturas indecifráveis e assim obscurecer a razão da existência do que normalmente é, no final das contas a a maior causas mortis das instituições.

Deus deu aos homens o privilégio de servi-lo de forma íntima e relacional, simples e direta, mas infelizmente muitas invencionices religiosas querem voltar ao tempo da comunicação por fumaça ou mesmo saltar num futuro que inexiste e assim não encontram o equilíbrio do que se é necessário e possível mudar sem perder a essência e acabam não mudando nada e elevando o “fio” da telefonia ao status de semi deus da comunicação, para justificar o não mudar nada ou morrer abraçado com ele, ou seja, até matar a instituição.

Precisamos em primeira mão, voltar a essência do evangelho que é o que nos leva ao perfeito relacionamento com Deus. A religião é apenas um meio e não um fim na relação do homem com Deus, exatamente ao contrário do que muitas instituições religiosas ainda teimam em se colocar. A insistência em tentar ser um fim, levará a religião desse modelo atual, ao destino do fio da telefonia, que embora ainda o usem, todos estão trabalhando para encontrar uma forma de eliminá-lo definitivamente independente do custo, deixando como “viúvas desamparadas” do sistema,  todos aqueles que insistem e defendem veementemente que não existe outro meio de fazer isso!

Pr. Eroni Fernandes

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2 comentários em “A obsolescência da Religião: um perigo oculto para as igrejas tradicionais 

  1. Como uma religião cristã pode se atualizar para não se tornar obsoleta? Sem renunciar aos princípios (como proposto no artigo)? O ser humano tende a ter um vazio por dentro e a religião institucional pode procurar ser o meio pelo qual Deus pode preencher o vazio que há no ser humano sem Deus, no entanto, sem colocar fardos desnecessários ao ser humano, mandamentos de homens, vãs cerimônias. É deixar Deus agir. Eu entendo que o livro de Atos tem o modelo básico de como uma Igreja deve ser, e o que não é essencial não é requisitado lá, mesmo que exista nas Igrejas hoje em dia. O Novo Testamento em geral tem informações extremamente relevantes de como uma Igreja tem que ser.

    Talvez, o problema seja que há uma confusão nas Igrejas quanto às suas funções neste planeta Terra. O que Deus realmente quer, afinal? Para que a Igreja Cristã veio a existir? Qual é o seu objetivo? A sua missão? É o que cada seguidor de Jesus Cristo deve perguntar a si mesmo, refletir sobre.

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