Há igrejas que estão desconectadas da realidade intelectual e econômica do país e não conseguem mais alcançar sequer os filhos de seus membros e sofrem por não conseguirem se reinventar como instituição para ser relevante com o evangelho para o mundo atual, porque misturaram os conceitos doutrinários com usos e costumes, e perderam a identidade que lhes fez serem pujantes em crescimento e relevantes para sua membresia
Recentemente a Revista exame publicou em uma reportagem, que mostra que os jovens da atual geração Z, hoje são predominantemente evangélicos, (Veja o gráfico) isso é uma grande notícia, mas contrasta frontalmente com um cenário comum em algumas igrejas onde a membresia está envelhecendo e os jovens se evadindo, buscando outras denominações para servir a Deus, e a pergunta principal é: quais seriam as razões disso? Pela nossa percepção, e analisando o perfil predominante nas pessoas da pós-modernidade, relacionamos algumas características e situações que nos fazem entender as razões que isso acontece:
- Hoje há uma classe média, que não necessariamente é a mesma classe econômica, mas sim intelectual, que talvez não é percebida, oriundo muitas vezes da evolução das famílias da própria igreja que conseguiram estudar e melhorar de nível cultural e agora suas demandas por qualidade de ensino, pregação com conteúdo, organização litúrgica, aconselhamento e tudo mais, estão muito acima do que essas instituições religiosas conseguem “entregar”, porque seus pastores são geralmente homens simples ou que só foram preparados para atender uma classe de perfil simples, origem rural, ou periferia, pouco alfabetizados que demandavam menos e pouco questionavam. Estes homens hoje estão envelhecidos, poucos conseguiram se atualizar e portanto suas idéias e visão de mundo muitas vezes estão fora dos níveis mínimos necessários para atender sua membresia. A igreja não pensou nisso e agora não sabe o que fazer com eles, que cada um tem sua história dentro da denominação mas não se adaptam mais às necessidades da atualidade. Sem solução, insistem em mantê-los à frente de igrejas, mesmo que em prejuízo de seus frutos e a consequência é que a membresia desassistida, se afasta.
- Igreja que a membresia envelhece, a tradição se enraíza e torna-se ambiente hostil para as mentes mais avançadas dos mais jovens e pessoas mais esclarecidas. Estas tendem a se afastar dali, mesmo porque cultivam o respeito à igreja e sua história, mas não querem viver em conflito com as idéias dos mais velhos e nem carregar o rótulo de desobedientes;
- Práticas e regras completamente inadequadas e desconexasda realidade do século XXI, que desprezam e até agridem a intelectualidade das pessoas, tornando-se até ofensivas às mentes evoluídas, criando repulsa e indignação nas pessoa porque não conseguem ser convencidas de que tais “proibições” tem base bíblica ou fazem sentido. Vejamos alguns exemplos dessas regras polêmicas: proibição de uso de calça comprida para mulheres, uso de jóias, maquiagem para mulheres, restrições de uso de barba para homens, proibição de bater palmas no ambiente da igreja, etc;
- Mulheres jovens não vêm perspectivas para si porque não se vêm usando o figurino exigido, ou atendendo as regras dos costumes e além disso as atividades para mulheres, além de serem talhadas para senhoras idosas, acontecem em horários inviáveis para a mulher moderna que trabalha, é profissional liberal e tem vida corrida e possui outro perfil de utilidade para o reino, mas a igreja não se apercebe disso e as coloca à margem entristecendo-as e sentindo-se inúteis na sua comunidade;
- Falta de pessoas qualificadas para o aconselhamento em temas atuais: Os problemas da atualidade requerem mais que conhecimento bíblico e espiritual, é necessário preparo, treinamento e capacitação, o que essas igrejas normalmente não fazem, tudo que sabem orientar significa pouca bíblia e muita tradição, tentando fazer as pessoas a viver no passado e poucos conseguem passar uma orientação adequada, segura e convincente para apaziguar as aflições oriundas das mazelas do presente século;
- Desconexão com a realidade de crianças, jovens e adolescentes e principalmente com as dificuldades das famílias em estarem juntos no dia a dia, e daí potencializam suas carências, subtraindo o tempo de estarem juntos com muitas programações, ensaios, horários de cultos inadequados para a atualidade, liturgia cansativa, etc;
- Falta de ações e estratégias inteligentes de evangelismo para alcançar e manter essas pessoas na igreja. Estas ainda insistem em métodos antiquados e na ideia de que as pessoas tem de vir à igreja para ouvir o evangelho, o que mais fazem é incentivar as pessoas a convidar outros para ir ao culto, isso não é errado, mas a atualidade exige algo mais inteligente e condizente com a realidade social das pessoas que queremos alcançar, não são mais aquelas pessoas simples e inocentes do século passado, quando a igreja cresceu assim. Acontece na igreja atrapalha todo o trabalho de evangelização feita antes
- Dificuldade em reter as pessoas que ganham, porque estas não se adaptam às coisas que já relatadas acima e assim forma esse circulo vicioso, que cada dia faz minguar a membresia e as poucas pessoas que ganham logo vão para outras denominações ficando estas apenas como bons obstetras mas péssimos pediatras para cuidar do crescimento dessas pessoas.
Enfim, não é uma época fácil para as igrejas em geral, temos de citar as outras extravasam os limites para outro lado, quando seus templos não guardam um zelo mínimo pela cerimoniosidade do culto, exageram em alguns quesitos e ultrapassam o limite do aceitável.
Enfim, há um desafio a todos que querem servir como igreja, de forma zelosa e séria sem deixar de praticar e defender as verdades do evangelho, mas também sendo relevantes para as gerações atuais e frutificar o evangelho mesmo em corações que até podem parecer áridos, mas a realidade mostra que há muitos sedentos que apenas não bebem água contaminada por tradições e práticas que não cabem mais na intelectualidade das gerações atuais, eles querem somente o evangelho cristalino que transforma vidas e faz diferença na vida de quem o vive de verdade .
Pr. Eroni Fernandes