A igreja Evangélica Brasileira precisa voltar a ser Igreja!

É muito confortador quando vemos todas nossas palavras e inquietações resumidas em um texto escrito em 2013, por um dos mais respeitados teólogos pentecostais da atualidade, por isso publico aqui um extrato do artigo do Pastor Claudionor de Andrade que se inspirou em uma breve resposta dada a um interlocutor que lhe perguntou qual era o maior desafio da igreja evangélica brasileira, para escrever um artigo onde ele descreve o que seria a melhor resposta:

O maior desafio, hoje, é voltar a ser Igreja”. À medida que nos robustecemos como organização, debilitamo-nos como organismo. E o que ganhamos em quantidade, já começamos a perder em qualidade. O futuro? Só Deus sabe. Logo, o que tanto temíamos acabou acontecendo: o nominalismo já é uma epidemia entre nós. Por conseguinte, o diagnóstico que o Senhor Jesus fez de Sardes também serve para a igreja evangélica brasileira: “Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto” (Ap 3.1).

Tornamo-nos ricos, poderosos, influentes. Bastamo-nos a nós mesmos. Hoje, não precisamos mais evangelizar para crescer. O aumento vegetativo é suficiente para nos manter a pujança dos números. Então, por que gerar filhos espirituais, se nossos bebês, apesar de raros, ainda são capazes de inchar os róis de nossas igrejas? E, assim, vamos crescendo para dentro e diminuindo para fora. Afinal, nossas demandas internas são tão urgentes, que já não há tempo para tratarmos de coisas importantes como evangelismo e missões.

Florescemos como império. Murchamos como Reino. Os passos encurtaram e diminuíram, mas os paços alongaram-se e fizeram-se mais suntuosos. E os nossos pés? Dantes tão calejados, porém formosos, agora são mais delicados que os da esposa de Cantares. E, nem por isso, fizeram-se mais limpos.

Antes, éramos arrolados entre os mártires, agora, entre os ricos e famosos. Outrora pobres, enriquecíamos a muitos. No presente, temos ouro e prata, mas já não temos autoridade para declarar: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!” (At 3.6) Sim, de nada temos falta. Mas a nossa pobreza espiritual já não pode ser disfarçada. Como se não bastasse, ainda nos orgulhamos de uma visão administrativa que vê tudo, menos o Reino de Deus na manjedoura.

Ontem, éramos odiados por sermos biblicamente corretos. Hoje, o mundo nos bajula por estarmos entre os política e socialmente corretos. Ganhamos influência junto aos palácios e câmaras. Todavia, já não temos ousadia junto ao trono daquele, cuja soberania não deve ser ignorada.

No início, a igreja era evangelizadora. Agora, meramente evangélica. Se no passado fazíamos história, no presente, nem históricos somos. Já não temos qualquer perspectiva quanto ao futuro. Perdemo-nos no tempo, e já não conseguimos achar o Pai da Eternidade.

Sim, há exceções e não são poucas. Infelizmente, passamos a ser conhecidos não pelas exceções, mas pela regra geral. Se as exceções fazem o cristianismo invisível e militante, a regra geral dá corpo e forma à cristandade visível e já bem conformada com o mundo. Infelizmente, ainda não podemos arrancar o cristianismo da cristandade, mas podemos impedir que ela venha sufocar-nos. E, assim, vai o nome de Cristo sendo vituperado.

Ontem o joio entre o trigo. Hoje, o trigo entre o joio. E, pouco a pouco, vai a erva daninha sufocando a boa semente.

O que aconteceu conosco? John Stott foi buscar três simples palavras para descrever a igreja evangélica de nossos dias: “Crescimento sem profundidade”. O seu diagnóstico foi preciso, porém doloroso. Referia-se não somente à igreja de seu país, mas também à do Brasil. Pois não deixamos de ser um reflexo do que acontece no universo evangélico europeu e, principalmente, norte-americano. Houve um tempo, em que nos supúnhamos imunes à indiferença que levou as igrejas da Europa e dos Estados Unidos a beirar a extinção. Infelizmente, já estamos indiferentes à nossa própria indiferença.

Antes, a espiritualidade da igreja era aferida pela Bíblia. Hoje, pelo IBGE. Regozijamo-nos com estatísticas e gráficos. Aliás, o texto áureo de muitos obreiros hoje é: “Sede numerosos e ricos, porque Eu sou rico e numeroso”. Será que a lição de Davi não serve para nada? O filho de Jessé, mais preocupado com o seu império do que com o Reino de Deus, ordenou que Joabe levantasse o censo de Israel. Mas isso lhe custou muito caro. E, por fim, teve de aprender que o Senhor não precisa de grandes números para estar entre o seu povo. Bastam-lhe três santos, e no meio destes estará para sempre.

Certa vez, João Paulo II reclamou do número de seus fiéis. A quantidade era muita, mas a qualidade pouca. A mesma reclamação faria Billy Graham. Tanto o papa quanto o evangelista estavam certos. Mas nós, por falta de senso, continuamos preocupados com o censo. Entre outras razões, porque os recenseamentos medem não propriamente o nosso cristianismo, mas a nossa cristandade. Eles não mostram o nosso empenho evangelístico, mas o nosso engenho político. É por isso que nos alegramos quando elegemos um deputado, mas não demonstramos a mesma alegria ao enviarmos um missionário ao campo.

…Diante do exposto, resgatemos urgentemente o termo “evangélico” que, desgastado midiaticamente, é hoje um sinônimo mero e ordinário de riqueza, sucesso e atrevimento. Não me atrevo a apontar culpados. Todos somos responsáveis pelo que vem acontecendo em nossos arraiais. Contudo, jamais haverei de isentar a famigerada Teologia da Prosperidade que, com a sua ação preferencial pelos ricos, transformou a igreja evangélica brasileira num arremedo teológico. Seus proponentes, sempre tão gabarolas e fanfarrões, substituíram a excelência da vida cristã pelo sucesso de uma existência cheia de coisas vazias e mentirosas.

Com a teologia da prosperidade veio uma enxurrada de modismos e asneiras. E, infelizmente, não são muitas as arcas para abrigar os cristãos que ainda teimam em seguir o cristianismo singelo e essencial que Jesus nos deixou.

Não quero a destruição da igreja evangélica, mas espero que ela seja também evangelizadora. E que volte a falar aos pecadores, pois esta é a sua razão de ser. Sim, não desejo a sua destruição. Todavia, anseio que ela seja mais cristianismo que cristandade. Almejo também que ela aumente como Reino e diminua como império. E que, crescendo, não venha a inchar. A igreja não precisa diminuir em quantidade, mas é urgente que venha a crescer em qualidade. Mas, para que isso aconteça, é preciso que eu e você busquemos um avivamento autenticamente bíblico.

Pr. Claudionor de Andrade

Fonte:
http://www.cpadnews.com.br/blog/claudionorandrade/posts/32/evangelica-mas-nao-evangelizadora.html
Publicidade

4 comentários em “A igreja Evangélica Brasileira precisa voltar a ser Igreja!

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s